então e só em adulta é que descobriste



Descobri que era celíaca em 2018, porque apenas nessa altura fui ao gastroenterologista.

Cresci com intolerâncias alimentares e com algumas restrições alimentares.
Quem se lembra de mim sabe que nunca comi chocolate, ananás, pimento, etc, etc, etc.

O historial de alergias associava-se às intolerâncias, e eu continuava a aumentar a lista do que não podia comer, do que não devia comer, e do que me fazia dirigir às urgências.

Desde a primeira infância que ouvia os meus pais relatarem o episódio da minha "colite mucosa", e que por isso não podia comer a "tal" lista de alimentos.

E sabem? eu obedecia à risca. Eu não comia mesmo!
Sim, mesmo quando era alvo de "gozo" e até alguma discriminação, eu não comia.
Calava a vergonha (sim, vergonha por ser quase sempre a única alérgica), e lá ficava. 

Acreditem ou não, houve aniverários onde só podia pão, (achava eu), comer pão sem nada.

No entanto, a obstipação, o desconforto, o inchaço, continuavam. 
Continuavam e não me lembro muito bem porquê, nem como, passei a ouvir (na família) que eu teria colón irritável. 
E eu, mais crescida, depois de ler o que seria, até me identifiquei com a doença e, mais uma vez, obedeci.
Retirei (mais) algumas coisas da minha dieta, e continuei. Um pouco melhor mas, nunca bem.

Nas minhas gravidezes (duas), o médico dizia que "sentia" o meu cólon irritável e que estaria sempre muito inflamado.

A minha alimentação, e isto é apenas um parêntesis, sempre foi o mais saudável que eu consegui.
Não ingeria molhos nem açucar, e os bolos, assim como os processados, eram apenas consumidos  em situações excecionais (festas). Privilegiava os legumes e a fruta, nunca ingeria alcóol, mas ainda assim.... o desconforto abdominal, a sensação de enfartamento, azia (pontualmente), começavam a ser recorrentes.

Em 2008 retirei a lactose. Atenta a alguns sinais que a minha filha já manisfestava, pedi a uma médica que me fizesse o teste (a médica dela achava que não fazia sentido), e fiz também com ela.
Resultado: positivo.

Retiramos a lactose, ela ficou bem, eu... com poucas diferenças.

Durante mais uma década, como achei que podia mesmo ser da minha cabeça, fui lendo e analisando o meu corpo, ouvindo/sentindo o que ele me dizia, e o que é certo é que cada vez mais o "Glúten" ressoava aos meus ouvidos. Comecei a comprar massa sem gluten (ocasionalmente até porque os valores de mercado eram muito altos), diminui a ingestão de pão, e continuava, uns dias melhor, outros em que nem conseguia comer nada, de tão inchada e indisposta.

Em 2018 marquei consulta para a gastereontologista (pela primeira vez), e depois de 2 ou 3 minutos a falar disto a médica exclamou: você é celíaca. (eu sorri, e achei que era impossível ela estar a dizer aquilo se nunca me tinha visto, e se eu estava ali há tão pouco tempo).

Saí com a prescrição dos exames, marquei e esperei tranquila, apenas com a convicção que isto me ia dar uma explicação para as minhas queixas, ainda que incrédula por ter feito isto só agora. 
(Constatei neste dia que não me lembrava de quase nada que tivesse feito por mim).

Os resultados dos exames que fiz nesse dia (18 de nov de 2107) estavam todos bem, sem alterações e eu regressei muito feliz. Talvez fosse apenas mais alguma intolerância que eu tinha que despistar. (pensei eu... pensou a minha mente). Ficou por saber o resultado das biópsias, mas como me disseram para eu estar tranquila, eu... fiquei.

E fiquei assim mais 1 ANO. Sim, mais 1 um ano de más digestões e afins, até ao dia 06 de novembro de 2018, quando me digno a ir ter com a médica que me prescreveu os exames e ouço o veredícto e todos os insultos e exclamações merecidas.
"Você tem Doença Celíaca, e só me aparece aqui agora?"

Ouvi, acatei, suspirei de alívio por não ser nada de grave, e agradeci o facto de FINALMENTE saber o que tinha.

Antes de sair do consultório, e depois de uma lista enorme de recomendações, a médica olhou-me nos olhos e disse uma frase que guardo até hoje, e que me salvou nos primeiros tempos de tentação:
"lembre-se sempre que a demência é um dos maiores efeitos secundários da DC, não facilite. A menos que queira ficar demente".



Com amor 

claudia oliveira 🖤





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